um convite a uma reflexão sobre nossa identidade e cultura ...


Pelas ruas de uma cidade barroca.
Ricardo Camêlo

Chegamos e...
Abençoados pela Nossa Senhora da Divina Providência nos abrigamos nos quartos e alojamos nossos apetrechos entre a história da educação.
Pelas ruas da cidade antiga andamos, aguçamos a vida, sentimos outros aromas, e vimos outras cores e apreciamos novos sabores.
Mas não nos bastou apenas por ela caminhar feito estrangeiro que se assusta ou encanta com o novo que se apresenta a todo momento.
Pelas ruas da cidade antiga queríamos o néctar dos artistas de outrora e de hoje, que também já são da memória.
Vagamos com os sentidos ludibriados pelos monumentos barrocos contrastando com os traçados lógicos e lineares das primeiras ruas mineiras.
Frente às igrejas deparamos com símbolos e códigos incompreensíveis e impronunciáveis.
Encontramos Mestre Athayde pintando os céus que encobriram a cidade, de tarde, de noite, de manhã.
Vimos Aleijadinho rodeado de anjos e arcanjos entre os bordados duros dos frontispícios dos templos. Então ao derredor ecoaram batidos compassados de um martelo e uma cunha corrompendo a pedra.
E ainda Alphonsus de Guimarães poetou em nossos ouvidos sua leitura angustiada do mundo - “pobre Alphonsus, pobre Alphonsus...”.
Numa rua direita, e curvada pelos anos, sacadas debruçavam sobre nós, transeuntes, que vislumbrávamos um relicário e um Ethos talhados ao longo do tempo e dos atos.
Pelas ruas da cidade também celebramos, dividimos espaços e alegria.
Sentamos à mesa comemos e bebemos, rimos e falamos.
Fomos dormir.
Acordamos.
Saímos.
Mas nem o mais esperançoso de nós pode conter o espanto e o louvor ao ouvir a música de Bach e de Händel preencherem o espaço divino da Sé pelos ares tornados melodia nos teclados e tubos e alavancas do raro e inigualável Arp Schnitger.
Mas queríamos mais, queríamos a cidade, trazê-la no bolso como brinquedo de criança e não nos foi possível.
Sim Mariana, Maria Ana da Áustria, de Portugal, do mundo, vila, colônia, provinciana e cosmopolita, célula Matter, queríamos o seu aconchego de mãe, mas ficou apenas na lembrança o tempo que aí vivemos.
E a cidade já não há e a memória parece se esvaecer.
Será que houve esse dia?
Ser há...?


























Nos dias 25 e 26 de abril um grupo de estudantes da Faculdade de Educação fez uma viagem para Mariana, a primeira cidade e primeira capital de Minas Gerais. Coordenados pelo Prof. Ricardo José Camêlo da Silva, que promoveu uma aula peripatética, o grupo percorreu um dos principais e emblemáticos espaços do Barroco mineiro, ao andar pelas ruas da cidade. O grupo teve ainda a oportunidade de assistir a um Concerto inédito no órgão Arp Schnitger na igreja matriz da Sé. Patrimônio Histórico Nacional Mariana hoje é uma das jóias raras do ciclo do ouro e da história mineira. Com uma rica manifestação cultural ao longo do ano, a cidade abriga uma das mais antigas instituições de educação das gerais. Localizada no final da Serra do Espinhaço Mariana é um convite a uma reflexão sobre nossa identidade e cultura e um contato único com as Minas Gerais.

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