Jornal Pedagogia Informa - 5ª Parte

ALUNO ENTREVISTA


ML.        O senhor possui, além da formação acadêmica em Matemática, graduação em Pedagogia, Engenharia Civil e também Mestrado em Educação. Fale-nos sobre sua trajetória humana e profissional.

RS. Assim como todo mundo, meu grande objetivo era tornar o mundo melhor e mais justo na sua plenitude. Como postura social, enquanto estudante de engenharia, pensei que poderia, através da educação, fazer uma revolução, por isso busquei a sala de aula. Para melhor conduzir a aprendizagem e esta mudança social, fui buscando outros cursos. Como a Matemática não me capacitou o quanto eu esperava, procurei o curso de Pedagogia, que me preparou para ser um melhor engenheiro e professor. Acho que não fiz minha revolução, pois, como disse Paulo Freire, “a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda”.


ML.       Dentro de perspectiva de formação escolar, como foi para o senhor o ensino da matemática desde a infância e a escolha de trabalhar em um campo tradicionalmente tão “hostil” para a maioria dos estudantes?

RS. Em minha trajetória não enfrentei dificuldades com a escola, nem com a matemática. Não fui um aluno brilhante, pois a escola não me fascinava, o que fazia meus olhos brilharem eram as ciências, o poder de experimentar, de fazer e desfazer, construir, montar. Meus pais permitiam que eu brincasse neste mundo maravilhoso da pesquisa.

A escolha de trabalhar num campo tradicional foi mais pela formação enquanto estudante de engenharia que abria um espaço para atuar na rede estadual como professor de matemática. Mas, no segundo mês de sala de aula, eu já estava encantado, como estou até hoje. Uma das buscas sempre foi tentar desmistificar esta área do conhecimento.


ML.       A relação afetiva no ensino da matemática é um fator preponderante para real aquisição e apreensão do conhecimento? Comente, por favor.

RS. A relação afetiva é fundamental para qualquer relação social e na educação não é diferente. Mas o preponderante é saber “ver” e “ouvir”. Não somos educados para o processo dialogal, conduzimos nossas aulas muito mais em forma de monólogo. A intervenção pedagógica acontece quando eu posso inter(ver e ouvir) o outro.


ML.       Com as novas demandas sociais e profissionais e, certamente com as pesquisas sobre como o aluno aprende, as metodologias de ensino passaram por significativas mudanças que contribuíram para melhorar a formação humana dos alunos. O senhor tem percebido efetivamente essas melhoras?

RS. É claro que, nos últimos anos, evoluímos muito, principalmente na educação matemática. Sabemos mais e melhor como o nosso aluno aprende, mas ainda necessitamos avançar muito no campo educativo matemático.


ML.       Professor, na sua opinião, quais as principais mudanças ocorridas nas últimas décadas na relação professor X aluno? O profissional tem se preparado adequadamente para esse cenário?

RS. As mudanças são muitas. Rompemos com a ação de apenas memorizar para compreender o processo e hoje procuramos compreender para melhor memorizar. O aluno perdeu sua passividade, ele pode dialogar e apresentar suas dúvidas, possui um mundo de informações por todas as mídias que ajudam a alimentar o seu conhecimento. A cada década temos um aluno novo, mas os institutos de formação não têm acompanhado toda esta evolução.


ML.       O senhor e o Davi Mourão Motta Drumond produziram um trabalho intitulado CULTURA DA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA NAS TIRINHAS “CALVIN E HAROLDO” em que se discutem os elementos da cultura da educação matemática presentes nas tirinhas. Comente sobre a importância da HQ para o amadurecimento e ensino-aprendizagem do aluno.

RS. No trabalho com as tirinhas, um dos objetivos é reforçar o quanto a matemática é uma linguagem e o quanto ela está presente na natureza, nas relações sociais, na literatura infantil, enfim, mostrar que ela é uma ciência também social e natural e não apenas exata. Calvin e Haroldo demonstram o quanto este conteúdo está presente no nosso cotidiano e, na maioria das vezes, nem nos damos conta.


ML.        Que tipo de cooperação as universidades e instituições de pesquisa podem oferecer às escolas de ensino fundamental e médio, no sentido de disseminar e promover o ensino aprendizado eficaz em matemática?

RS. Penso que uma grande formação voltada para a educação matemática já seria uma fantástica contribuição para o ensino e o aprendizado da matemática.


ML.       Para terminar, muitos estudantes, principalmente do ensino médio, reclamam que são obrigados a aprender uma matemática que jamais vão usar no dia-a-dia. Na sua opinião, como nós, futuros pedagogos, poderemos contribuir para a construção de uma nova mentalidade escolar e também para que o ensino/aprendizado seja satisfatório para ambas as partes?

RS. Há um mundo encantado desta ciência para apresentar ao educando desde a educação infantil, passando pelo ensino fundamental até atingir o ensino médio. Mas este mundo encantado tem que ser visto de forma integrada com as outras áreas do conhecimento, numa ampla relação com a língua materna, com a geografia (geometria), as ciências naturais e a geo-história (tempo e espaço). Então este aprendizado satisfatório necessita de uma ampla “revisão” e “visão” de toda a educação.


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