XV CONCURSO DE CONTOS/2010 – 3º. Colocado
Confiança cega - Parte 2 – Úrsula Viana Mansur (NF IIIE, FAE/CBH/UEMG)
PARTE V
Chegaram ao baile e sabiam que não seriam percebidos, principalmente por haverem muitas pessoas. Lily estava acompanhada por um dos membros da família Askov, que fora mais para vigiar o que a moça faria e prestar contas a Walter do que para fazê-la companhia. Dançaram algumas vezes até que Lily reconheceu Tucker. Começou então a acompanhá-lo com os olhos, discretamente. Depois de passada a euforia das apresentações e congratulações, Lily fez questão de mostrar a ele que o estava olhando. Não era difícil notar isso, uma vez que ela estava muito bela. Tucker percebeu. Mesmo que quisesse ignorar seu ego não permitiria. Era uma mulher muito mais atraente do que sua futura esposa e ela estava olhando-o.
Quando as pessoas deixaram que ele respirasse, parando com os cumprimentos, Tucker buscou o olhar de Lily. Encontrou-o. Olhou para uma pequena varanda que saia do salão, olhou novamente para Lily e saiu em direção à varanda. Lily pediu licença ao seu acompanhante e foi ao encontro de seu pretendente.
Passou pelas cortinas e avistou Tucker debruçado no parapeito na sacada.
- Devo dar-lhe os parabéns? Perguntou Lily.
Tucker virou-se admirando a beleza da convidada.
- Parabenizar-me pelo casamento ou por ter uma convidada tão bela em minha festa?
Lily sorriu. Aproximou-se do parapeito, Tucker continuava admirando-a.
- Posso saber seu nome? Perguntou-a.
- Pode me chamar como quiser Sr. Tucker.
- Posso saber o que faz?
- Posso fazer o que quiser, também.
Tucker achava aquela situação mais interessante a cada minuto. Lily havia conseguido o que queria. Chamara a atenção do futuro líder dos Morgan e sabia que havia despertado seu interesse.
Um homem surgiu atrás das cortinas e foi cumprimentar Tucker. Quando ele se aproximou para cumprimentá-lo Lily pediu licença e saiu. Foi acompanhada pelos, agora, sedentos olhos do seu futuro cunhado.
Encontrou seu acompanhante que acompanhara tudo de longe para passar detalhes á Walter. Chamou-o para irem embora. Caminharam ao carro, entraram e partiram. Lily estava com a sensação de ter cumprido uma missão, ou pelo menos tê-la começado bem.
Tucker saiu da sacada após os cumprimentos e procurou pela misteriosa moça que havia conhecido. Não a encontrou. Assustou-se com um garçom que chegou perto dele entregando-o um papel. Abriu-o discretamente e nele estava escrito “Encontro-o amanhã no Highlands Coffee ás 18 horas”. Guardou o papel e foi ao encontro de sua futura esposa. Foi difícil esconder o entusiasmo, mas foi fácil dizer que esse se dava pela felicidade do casamento.
O Highlands era um café em Salisbury, propriedade dos Askov. Walter o havia escolhido como ponto de encontro do casal para que pudesse acompanhar o andamento da missão.
Walter havia ficado muito satisfeito com o desempenho de Lily e aguardava ansioso pelo que podia estar por vir.
No dia seguinte, após seu passeio diário, Lily foi ao café encontrar-se com Tucker. Ele estava sentado no bar, de costas para a entrada não percebeu que Lily havia chegado. Ela parou atrás dele abaixou-se aos seus ouvidos e disse:
- Que perfume bom Sr. Tucker!
Tucker virou-se surpreendido, apreciou a beleza da moça e puxou uma cadeira para que ela se sentasse.
- Fiquei surpreso com seu recado. Seria muito triste não vê-la mais. – Disse Tucker acomodando Lily na cadeira.
- Ora Sr. Tucker, não perderia a oportunidade de vê-lo novamente.
- Por favor, chama-me de Ryan.
Lily aproximou-se e disse baixinho:
- Acho Sr. Tucker mais excitante. – Voltando a sua postura disse com um tom de voz normal: - Mas faço da maneira que preferir.
Tucker ajeitou-se na cadeira, tentou disfarçar, mas ficara surpreso com a fala de Lily.
- Continue chamando-me de Sr. Tucker então. Talvez assim fique mais interessante. E você, como se chama? Ainda não me disse seu nome.
- Chamam-me de mon chérie.
- Mon chérie... Não insistirei em saber seu nome verdadeiro então.
- Esse é meu nome verdadeiro, pelo menos pra o senhor é.
Conversaram por mais algum tempo. Tomaram um café até que Lily disse que devia ir. Tucker sentiu-se aflito e perguntou:
- Nos veremos de novo?
- Se você quiser Sr. Tucker nos veremos todos os dias.
- Esse será nosso lugar de encontros então. Infelizmente não poderei vê-la todos os dias, devido às responsabilidades com os Morgan, mas darei um jeito de lhe avisar. Aliás, como faço para avisá-la?
- Pode mandar um recado para alguém aqui do café mesmo. Passo por aqui sempre e eles podem repassá-lo pra mim.
- Combinado. Mandarei um recado sempre pela manhã para que possamos nos encontrar nesse horário.
- Esperarei ansiosa.
- Até logo mon chérie.
Tucker levantou seu chapéu e saiu.
Lily buscou Walter com os olhos e não o encontrou. Foi para casa, queria saber o que Walter estava achando do seu desempenho. Chegando lá o encontrou trancado em seu escritório e estava um tanto quanto bravo.
- O que há Walter? O encontro foi um sucesso.
- Sim, foi um sucesso! MON CHÉRIE.
- Ora Walter. Não me venha dizer que sentiu ciúmes por ter falado a ele sobre nossa brincadeira!
- Nossa brincadeira mon chérie. Era apenas nossa.
- Queria que eu falasse o meu nome Walter? Seria ótimo! Imagine. “Olá, meu nome é Liliany e eu sou a Lily que sumiu da sua futura família.” Raciocine Walter. Colocaria tudo a perder.
- Tem razão. Desculpe-me minha querida. Só não esperava ter que dividi-la com ninguém.
- Estou interpretando Walter querido, não se esqueça disso.
Lily se retirou do escritório e foi dormir. Walter ficou por lá, pensando no que havia acontecido.
Tucker encontrou-se com Lily no dia seguinte. Conversaram um pouco no café, mas não demoraram devido ao horário.
Os encontros vinham acontecendo com freqüência. Tucker se esforçava para não faltar com os Morgan e se esforçava mais ainda para conseguir ver Lily. Encantava-se mais pela moça a cada dia que passava. Achava brilhante a maneira como conseguia ser cativante como uma menina e sensual como uma mulher. Tinha respostas para tudo e sabia agir da maneira certa em todas as situações. Walter acompanhava tudo e não estava se sentido bem com os acontecimentos. Percebia que sentia ciúmes de Lily sempre que ela saia para seus encontros com Tucker. Não gostava da maneira como ela agia e falava com ele. E os Askov começaram a perceber isso. Existiam murmúrios pela casa. As pessoas falavam por entre as paredes. E a situação se agravou quando Lily e Tucker começaram a ser amantes. Walter não suportava olhá-los no café. Mas tentava disfarçar, sabia que aquilo acontecia por uma boa causa e que o produto final seria glorioso.
Tucker estava se apaixonando por Lily. Mandava flores, a levava para belos passeios nos bosques, recitava poesias.
Walter não podia acompanhar os passeios fora do café e quando era possível mandava alguém para vigiá-los, quando não, acreditava nos relatos da moça.
Certo dia chamou Lily para uma conversa em seu escritório. Depois de algumas formalidades e assuntos aleatórios, Walter perguntou:
- Você está apaixonada por aquele rapaz mon chérie?
- Como é Walter? – Disse Lily muito surpresa.
Walter olhou para Lily e tornou a perguntar:
- Está apaixonada por Ryan Tucker?
- Walter, não me venha com essa!
- Não me venha com essa você. Vejo como olha e como fala com ele. Vamos mon chérie admita de uma vez! Não se encontra com ele apenas por obrigação. Sente prazer em estar com ele. Não estamos colhendo frutos dessa missão.
- Não estamos colhendo frutos dessa missão? Preste atenção ao que diz Walter. Não me pergunta o que acontece há dias, portanto não sabe o que vem acontecendo. Não sabe nem quando Tucker e Elizabeth vão se casar! Pois te contarei. Eles irão se casar no final desta semana. E lhe conto mais. Ele terá acesso à mala logo após o casamento. Sim Walter, ele já me contou isso tudo. E ainda mais, disse-me que eu poderia descobrir o que havia dentro da mala se quisesse, uma vez que eu havia demonstrado interesse. Então não venha me dizer que não estamos colhendo frutos se é você quem não demonstra interesse.
Walter ficou perplexo com tantas novas informações e começou a se sentir mal por ter tratado Lily de maneira tão grosseira.
- Mon chérie desculpe-me por isso. Fui grosseiro e deixei outros sentimentos tomarem conta de mim. Duvidei de sua capacidade e agora percebo o quanto fui ignorante.
- Walter querido, já lhe disse essas palavras e vou torná-las a repetir. Estou interpretando, eu fui muito bem treinada.
- Sei disso. – disse Walter enchendo-se de orgulho – Não deveria ter duvidado de você.
A conversa acabou ali. Lily e Tucker não se viram durante a semana devido aos preparativos para o casamento.
O novo casal Morgan não teria lua de mel, pois Elizabeth não queria se afastar do pai, que estava em seus últimos dias.
O casamento aconteceu e todos os comentários diziam que havia sido lindo.
Após uma semana Lily recebeu um recado de Tucker dizendo que pretendia vê-la naquele dia no café. Foi ao seu encontro no início da noite e Tucker estava lá a sua espera. Abraçaram-se e ele disse o quanto sentiu sua falta nesses últimos dias. Foram passear pelo bosque e Tucker contou que havia ganhado o acesso ao banco para retirada da mala. Os olhos de Lily brilharam e ele perguntou se ela gostaria de ver o que havia lá dentro. Ela logo respondeu:
- Nossa como gostaria! Deve ser algo fantástico para ficar tão bem guardado.
- Mostrarei a você então! Se isso lhe fará feliz! Amanhã irei ao banco e farei a retirada. Onde nos encontraremos?
Depois de pensar um pouco ela respondeu:
- Que tal na minha casa? Pode ir até lá. Não haverá ninguém e teremos um tempo só para nós dois.
Tucker sentindo-se lisonjeado aceitou o convite. Lily explicou como chegar à casa dos Askov e despediram-se.
Walter havia acompanhado o encontro de longe. Encontrou-se com Lily ao final e ela contou sobre a conversa. Ele já sentindo o gosto da vitória disse:
- Ótimo trabalho mon chérie. A partir de amanhã eu darei conta de Ryan Tucker.
Lily acabando com seus planos disse:
- É claro que não Walter! Não me ensinou a usar uma arma a toa. Eu darei um jeito em Tucker e eu terei o prazer de levar a mala até você.
Walter olhava com orgulho para Lily e sem poder negá-la o pedido apenas respondeu:
- Como quiser mon chérie.
PARTE VI
No dia seguinte todos os que ficariam em casa foram orientados a não saírem de seus quartos até que Lily desse o sinal de que já havia encerrado a missão.
No horário marcado todos se refugiaram em seus aposentos, Walter foi para o escritório desejou sorte a Lily e disse que esperava por ela para abrirem a mala juntos ao final de tudo. A campainha tocou.
Lá estava Tucker, com uma grande mala prateada na mão. Lily o convidou a entrar e levou-o ao seu quarto. Ficaram lá por algum tempo. Walter estava atento aos sons. Esperava ansioso pelo barulho do tiro.
No quarto Tucker e Lily aproveitavam do momento a sós. Até que o barulho que Walter tanto esperava estourou.
Em poucos minutos Lily apareceu no escritório portando em suas mãos a mala grande e prateada.
Os olhos de Walter brilhavam ao olhar para aquilo. Mal podia esperar para descobrir o que havia lá dentro. Levantou-se da cadeira e foi em direção a Lily. Ela afastou a mala dele e o mandou esperar. Foi até a porta e trancou-a.
- O que está fazendo mon chérie?
- Estou fazendo algo que já devia ter feito há algum tempo. - Respondeu a moça, seguindo em direção de Walter.
Lily estava usando um belo vestido preto com um grande corte que mostrava suas pernas. Walter não conseguia fugir a tentação de sentir desejo por ela. Lily chegou perto de Walter, sentou-o na cadeira e começou a falar:
- Não sabe como esperei por esse momento querido Walter. Mas antes de fazer qualquer coisa gostaria de lhe explicar. Sempre lhe falei o quanto fui bem treinada. E agora devo te contar que você não foi meu grande mestre. Conheci alguém, ainda enquanto menina, ao passear pelos bosques que rodeiam nossa casa. Fiquei amiga deste homem e contava tudo a ele. Quando contei que iria me treinar ele disse que me treinaria também. Por isso aprendia tudo com tanta facilidade. Ele me ensinou tudo que sei, desde bons modos e armas a truques de sedução. A princípio achava tudo aquilo muito divertido, mas fui percebendo a grandeza daquilo em que eu estava me metendo. Ah Walter, percebi que não fazia mais nada por você ou por essa família e sim por mim. Não podia deixá-los, afinal precisava de seus recursos para conseguir chegar à mala. Mas devo dizer-lhe Walter que você não ficará com ela.
Walter escutava a tudo perplexo. Não acreditava que sua menina estava apunhalando suas costas. Depois de recuperar o fôlego e perceber o que estava acontecendo respondeu a Lily:
- Foi muito inteligente, mas muito prepotente. Acha mesmo que sairá dessa casa viva se roubar essa mala?
- Não haverá ninguém para me matar Walter. Já devem estar todos mortos. Aprendi muito com as histórias que me contou e como Stephanie Morgan envenenei todos aqui durante o almoço. Deixei você de fora, pois sabia que estaria ansioso demais para almoçar e gostaria de ter essa conversa com você antes do fim.
Enquanto Lily falava Walter abria sua gaveta para pegar a mala quando Lily o surpreendeu:
- Tomei a liberdade de pegar sua arma emprestada, só para não correr o risco de algo dar errado.
Walter abriu a gaveta e percebeu que sua arma não estava ali. Ele estava aflito, não sabia o que fazer e nunca havia estado tão perto de conseguir o que queria. Em um momento desesperado de adiar o fim daquela conversa perguntou:
- E o que você fez com Tucker?
- Dei um jeito nele. Ele teve o que mereceu!
Tomando posse da arma Lily dirigiu-se a Walter que tornou a cair na cadeira:
- Adeus querido Walter!
Apontou-lhe a arma e disparou.
Tomou posse da mala e saiu da casa dos Askov.
PARTE VII
A família Morgan já estava ciente do sumiço da mala e de Tucker. Mas as buscas começaram tarde demais.
Lily estava na estação do trem, tomando um café com uma bela maleta ao seu lado. Um homem de casaco e chapéu se aproximava de Lily por trás. Chegou perto dela e disse-lhe:
- Mon chérie.
Lily sorriu, colocou seu café no bar e respondeu:
- Que perfume bom Sr. Tucker!
COLUNA ABERTA
Breve Relato da Reunião Anual da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPEd).
Professor José Eustáquio de Brito
Entre os dia 02 e 05 de outubro último., na capital do Rio Grande do Norte, realizou-se a 34ª Reunião Anual da ANPEd, que inaugurou a proposta aprovada pela assembléia anterior de realização de reuniões intinerantes. Foi a primeira vez, após 18 anos, que um encontro é realizado fora da Região Sudeste. De acordo com a direção da ANPEd, a descentralização dos encontros em relação ao eixo sul-sudeste foi uma forma encontrada para proporcionar maior participação de estudantes de pós-graduação em Educação, professores e pesquisadores da área presentes nas várias regiões do país.
O encontro deste ano teve como eixo articulador o tema “Educação e Justiça Social” que, de acordo com os organizadores, expressa “alta relevância para a sociedade brasileira, marcada por profundas desigualdades econômicas, sociais, de gênero, de raça, entre outras”. Assim, a escolha do tema tem “a intenção de envolver a comunidade acadêmica na discussão dos problemas que o Brasil precisa enfrentar na atualidade, reafirmando o compromisso da ANPEd com a produção e divulgação do conhecimento em educação que promova a mudança social e contribua para a construção de uma sociedade mais justa e democrática”, sintetiza nesses termos o documento que apresentou a proposta da Reunião Anual.
Uma programação extensa foi desenvolvida ao longo desse período, envolvendo apresentação de resultados de pesquisas nos 23 Grupos de Trabalho, realização de mini-cursos, sessões especiais, rodas de conversas, sessões de lançamentos de livros, atividades culturais, mostras e exposições artísticas, dentre outras.
Dentre o conjunto das atividades realizadas em torno do tema articulador do encontro, talvez seja importante destacar a sessão intitulada “Direitos Humanos, Sujeitos, Movimentos Sociais: educação do campo, quilombola, ambiental e relações de gênero”, que teve como expositores a Ministra da Secretaria Nacional de Direitos Humanos, Maria do Rosário Nunes, e os Professores Miguel Arroyo (UFMG) e Michele Sato (UFMT). Em sua exposição, o Professor Miguel Arroyo enfatizou a necessidade de refletirmos sobre a articulação entre direitos humanos e educação a partir da perspectiva dos injustiçados de modo a concebê-los não como destinatários das políticas e sim como “sujeitos capazes de ampliar o campo de abrangência dos Direitos Humanos”.
Na abertura da Reunião, presidente da ANPEd, Professora Dalila Andrade Oliveria (UFMG), destacou o compromisso da pesquisa em educação com as lutas dos movimentos sociais, refletindo sobre a importância de pensarmos essa agenda no ano em que as Nações Unidas elegeram como sendo de homenagem aos Afro-descentendes presentes nas diásporas espalhadas ao redor do mundo. Em torno desse tema, enfatizou a professora, há uma densa agenda a ser cumprida.
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